terça-feira, 31 de dezembro de 2013

31 de dezembro

31 de dezembro

Que o ano de amanhã
seja um ano florido.
Sereno, tranquilo
e menos doído.

Entre minhas metas:
encontrar o caminho,
arte, castanha de caju
e bicicleta.

soneto forçado

o soneto forçado

Metalinguagem é um porre
ainda mais no fim de ano
Tempo em que se abaixa o pano
e dizem, o que não foi, morre

— Hoje quero fazer versos
como o antigo, clássico, poeta
Já separei papel e caneta
e, oh!, alguns vocábulos dispersos


Quero escrever como escreveu
Vinícius naquele da fidelidade
de um jeito que pareça só meu.

Talvez sem forçar muito clichê
Sem manhãs, solidão ou saudade
Algo novo, original: o poema-bebê.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

tranquilidade

tranquilidade

Em mar tranquilo
Canoa navega
Cruzeiro navega
Cargueiro navega
 

Duas inquietações,
aquela luz que te cega

Dois motivos, des-sorriso
— onde ficou tudo aquilo?

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Chico

Chico

Do Velho Chico
trazem a mensagem
de qualquer Chico.
Trazem a mensagem
sempre presente
de Chico Mendes.

Chico benze.
O Chico Papa
Chico Bento?
(o Chico benze!)

E o Chico arte,
aquele, Buarque?
O Chico Ciência
de onde a lama
é a insurreição.

Chicó...,
seu covarde!

poemas piegas pra cacete

poeminhas excessivamente sentimentais sobre o amor, o esquecimento, sonhos e o meu tomate.

I.

Pensa nas luzes, no jogo, na Lua, nos acordes
Vai pra cama, 
ela te ama.

Mesmo que longe,
tua paz é poder
Sereno, coração.


II.

Não aprendi a ser feliz sozinho
ando tristinho, querendo
Nosso tempo, nosso chá,
sob o luxo, sobre o vento
Vem cá esperar.

Tomate.

III. 

Um mês inteiro
(mensagens do subconsciente)
O nosso fevereiro
de sonhos

Diversão
Um pouco de
gente

Dentro da caixa das coisas perdidas
o destino não sabe, mas mente. 

IV.

These are not hard times for dreamers
there is no time for dreamers.

There are miles of land 

in between
hapinness,
in between
you and me.

All there's left for us to meet
is to dream
(but there's no time...)

Bandeira

Bandeira

Recosta o corpo na cadeira
Diga trinta e três
trinta e três 
trinta e três.
Mais uns versos do Bandeira
e espera,
à toa, à toa...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

casamento de espanhol

casamento de espanhol

Enquanto a noiva não vem
a multidão pouco estranha
a demora


Debaixo de céu azul

ela dança
e dança — e dançam
os cachos molhados

Entre castanhas e castanholas

gostos, gastos,
sons de uma festa
A chuva cheira à grama

Memórias de terninho,
suspensório
e só


A noiva dança
descalça
e dança — e dançam
os cachos molhados

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

mágica

mágica

Assim-salabim!
Num impasse de mágica
— desgraça.

Chuva fina, ácida, fria,
óculos, frio, ônibus,
séculos, filos,
velocidade e frequência,
enfileirados
Teia em mente.

Ondas de mar
sal e areia
Assim-sal-labim!
Num passo da água.

sabe?

sabe?

Sou um sonso.
Me roo até os ossos
Sono, saudades,
sonhos insossos.
Sagacidade sabida
entre sílabas,
sons,
suspiros.


Somente seu
ah!
Sou um sonso,
simplesmente
sacal, esse seu
sorriso,
esse seu
suor,
esse seu
ser.

Sei de tudo
(meu sexto sentido
é texto escrito).
Mesmo que sonso
eu sou
— somente
só.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

musical da madrugada

musical da madrugada

A gaita soa
(Há alguém lá fora)
A moça decora
O coro entoa

A moça canta
Alguém quer ouvir
o coro seguir
Enquanto a moça encanta

Alguém foi tocado

E nada sentiu:
nem quente ou gelado

Uma paz sem igual
serena, descansa
A moça, o coro, o coral

o idealismo

o idealismo

Quanto tempo será que dura
esse querer manejar a ventura?
Acreditar no amor,
no Eldorado e na utopia;
nas boas intenções, em um doce sorriso?
Acreditar nas cartas do mágico,
querer voar, autêntico lunático!
Loucura, ilusão, demência,
ou ignorar a tal da ingaia ciência?

receio

receio

O poeta, sincero,
não pôde ser
Manequim poeta.


Àqueles que têm muito a esconder
só no papel pode urgir
mistérios doentios, crime e paixão

— O teu sim desbotou a minha tristeza
Insustentável leveza?
Ou contrapeso de inúmeras dúvidas?


E o poeta manequim silenciou.

— Duvido de tudo:
desde um incenso aceso
até a bondade súbita
De quem não está nem um pouco se importando
pelo meu bem-estar nesse mundo


E o poeta manequim silenciou.

A maldade está nos olhos de quem vê:
— Eu já vi tanto,
E fiquei no meu canto
Assistindo ao círculo caótico
de vilezas e mentiras


Como se fosse lógico,
como pode?

O poeta manequim, desviou.

— O teu sim desbotou a minha tristeza
a um ponto em que nem mais a entendo
e só conto com os olhos e com a sorte.


O poeta silenciou.

se não fosse Tolstói...

Se não fosse Tolstói
não teríamos a guerra
Pois ele escreveu Guerra e Paz
Também não teríamos paz
logo, não cavaríamos túmulos
e seríamos, assim
imortais.

O cavaleiro andante foi à guerra
sob a vigia de Deus e o comando do Rei
(não pensou nem em amantes)
Foi em busca de nada.
Acabou perdido,
na merda
e voltou pra sua mãe.

Quantas orgias, sensaborias
defeitos de fábrica, carne estragada
shampoos anticaspa e gibis eu já li?

elegia

elegia

Quero escrever para ti, menina!
Mas tudo o que sinto, agora
só me leva à outra elegia

Não tenho do quê escrever
Quase não saio
não vejo TV

Vivo em balance
entre o trabalhe e o descanse
E quando eu acordar
não choro e nem desatino:
Esqueço
do trabalho, do descanso
de mim

Ao limbo, o descenso.

no banco de trás

no banco de trás

Copas de árvores, fios elétricos
as nuvens, o azul-quase-preto
Pensamentos métricos, em fila
Mania de estar olhando pra dentro

E à primeira voz, a coluna entorta
a cabeça vira e tudo volta ao normal.

grilo

grilo

Uma fileira de carros
e as luzes faiscando

O vento entra pela ventana
— a saída, um copo d’água,
mais seco: o sopro — Sagarana

Uma fileira de cacos
e ele continua cantando.

Van Gogh

emaranhado de cores

Um emaranhado de cores
entrelaçadas em imagens
de uma realidade que poderia 
ser igual ao que é virtual
Laços entre algumas flores
que eu nunca vi, mas estão lá
A antologia da minha vida.

Oceano sem mar
Problemática do pintor
sem tinta, sem tela, daltônico
Vencido pela vida de viver aceitando
ser um tanto pequenino, até quando der

Van Gogh
viu
girassóis entre estrelas
sentado, pequenino
em sua cadeira

Não fui convidado
de novo
Antes solidão que convenção
Après moi,
moinho.

isso

isso

Hoje faz um domingo bonito
e é culpa do horário de verão
Fico pensando comigo
como pode isso, virar aversão?

Sentir o sol até mais tarde
sem saber o que cabe a cada qual
a sua parte.
Fico pensando comigo
sempre que sento, descanso
posso e finjo o tranquilo

Não é por maldade
que eu cultivo a saudade
— eu preciso me acostumar

Domingos, domingos
Fazem tantas tardes
que tudo isso
(que eu temo até nomear)
tende a tardar
E por isso eu finjo o tranquilo.

pecado Capital

pecado Capital

Nasceu o lixo ilógico, imutável, imundo
simplória filosofia do mim-mesmo
que rege e faz nesse mundo.
          Estou numa boa.

O grito
Ordem e o se-fingir-de-surdo
Enquanto impera a lei da exceção
          A regra é afundar.

Nada mal, nada mal?
o homem é animal racional
fracionado, preço
no mercado
Tudo mal.

O homem,
          animal racional.

Nada mau? É capital,
todo o mal.
Capital?
Nada mal.

necessidade

necessidade: cidade

Necessidade
de um refúgio
um leito pra dormir
uma roda, um batuque, um violão
mesmo que no chão, sempre sujo
de cidade.
Necessidade de cidade.

Necessidade
de espaço
ar de respirar
Harmonia entre as cadências
de um som que não arrisca parar.
Necessidade da cidade.

Cidade abstrato,
não faz distinção
Espera que todos,
espera de todos
ser e estar.

Cidade trabalho,
cidade ócio.
Que minha cidade
não vire negócio.

estrelas

estrelas    

"...if it’s true that every person has a star in the sky, mine must be distant, dim, and absurd." (Sadegh Hedayat) 

 

O universo se curva diante do breu da noite
Estrelas entre rabiscos, mesmo que turvos,
se apresentam como a corte real da galáxia

Entre duas ou três nebulosas
se esconde a minha estrela.
Estrela binária, supernova, 
tanto faz
— ela está lá.

À sombra de um farol,
me escondo do vazio.
Contemplo o mar, 
os navios, as nuvens.
No mundo do depois,
o caminho mais rápido
entre dois pontos, não é uma reta
e nem uma curva.

O relógio de sol não mostra
a hora exata em que a noite tem fim.
Não há nada de exato no céu
A noite segue como 
alguém sentado e calado
numa praça.
Em todas as praças.

O farol, guia dos navios
diz que talvez a minha,
minha estrela no céu
seja, quem sabe?, o Sol.