sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

o gato

o gato 

(cenas de um momento de desconcerto; o gato, meu animal preferido; poesia-cinema)
 
Passava pelo corredor a passos lentos, quando o encontrei
o gatinho. 

o gatinho
O barulho daquela gente toda me sufocava
cada vez mais, me sufocava
eu pedia por ar
fazendo caretas
esmagando o nariz.
Logo parei e me ajoelhei.
Tudo embaçou ao redor
vozes abafaram
o gatinho me chamava só pra si.

miau

textura aveludada
quente
logo contraiu com um espasmo de prazer
— eu acho.
Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer
…Bem-me-quer!

miau

só o eu e o gato,
que ousou me lamber
com aquela língua de textura estranha
Susto.
Bem-me-quer, bem-me-quer.
Olhares cruzados, vi nos dele
as minhas próprias bolinhas de gude
míopes de cor
celeste
le bleu

O que deu na minha mente quando te vi chegar?
Por gracejo te ignorei.
Só o gato e eu.
só o gato e eu
Logo me soltei
te olhei
sorri
ensaiei tudo de novo,
em segundos
segundos
Ouvi nitidamente teus lábios se soltarem
Minto
O gato ouviu, tenho certeza

miau-miau

Semblantes mantidos
trejeitos engraçados.
ficavas cada vez mais corada, meiga
Olhei,
desviei

abaixei e saudei meu amiguinho
— beijinho esquimó.
Só o gato e eu.
só o gato e eu

Como que carregando o carinho grudado no rosto,
levei-o até você
Estremeci.
Olhei de novo
não desviei
Bem-me-quer, bem-me-quer.
enrubescidos
e o gato como que não entendendo,
me encarava
Olhares cruzados,
vi nos dele as minhas próprias bolinhas de gude
míopes de cor
celeste
azul

re-miau

Saudei novamente meu amigo felino e me levantei
junto de você

Parece que nos olhamos até agora.