quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

o fim das feiras

o fim das feiras

O Sol entra de soslaio
por uma fresta na janela.
Repito dois ou três mantras
e saio de meu quarto, laranja.

As pantufas super-confortáveis,
a vaquinha engraçada na embalagem do leite,
o laranja,
valem a manhã.

E vale dizer que amanhã,
pode ser um domingo chuvoso,
uma segunda feira,
ou o fim das feiras.

Marte

Marte

Amar-te?
Prefiro fugir,
sem volta,
pra Marte.
Numa nave
trancada
e sem chave.

Em sofrer por amor,
posso fazer escola.
Fico mesmo por aqui...
e vê se não me amola.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

o ar

o ar

Sopra o ar
a criança pisca
enquanto segura um balão
E a mãe chega
em um clique
e sorri.

O vento segura os balões no ar.
O vento muda, a vela muda.
O vento move ternura, move ar.

Meu amigo,
a redoma está no ir.
Como você vai
caminhando
e não pensa em voltar
Levando um livro surrado
entre lugares 
e faces 
de Renoir.

Tudo rima
com o ar.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

a Lua e a Rua

a Lua e a Rua

A Lua e a rua se completam
O céu se estende à noite
e a noite estende
um varal de estrelas
centenas
enquanto completa
o quadro com a Lua.

A Lua não sente saudade dos homens
não dos que vêm 
de um mundo torto.

A luz entrincheirada
percorre a rua
Enquanto a Lua sobe
se escondendo por trás
das nuvens.

A Lua espreita os homens
Delicada, se detém
decepcionada, porém
Brinca com o mar
Enquanto a moça brinda
seus pés molhados.
Diante do luar
Seus cabelos 
enrolados vibram
num vento torto.

A Lua, nossa testemunha.
A Lua, que também tem sua culpa.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

molas

molas

Meu amor,
meu amortecedor
Me jogo de cabeça
— perco a razão
e ainda não caibo
em seu porta-malas.


Aquele chevette
não aguenta
um sequestro,
Meu amor.
E os dois homens
de capuz
não eram nada mestres
— em me amarrar
como você,
eu supus.

Não chamei a polícia
— eu não gosto da polícia.
Corri e me perguntei
como toda aquela carícia
virou porrada na nuca.
Como você ficou tão transtornada
pra chegar a esse ponto.
Como eu nunca pensei
que poderia ser sequestrado.

Então chamei a polícia
porque você foi de fato
uma idiota, sábado passado.

Júlia

Júlia

Júlia tentava dormir
como tenta qualquer pessoa
que precisa acordar cedo,
que está abobada com algo,
insone, quente ou com medo.
Com a fronte pra cima,
de bruços, de lado
com braço levantado,
flexionado,
de lado com as pernas dobradas e
o tempo se perde
— passa e não passa
e não sabemos se divagar
ou esvaziar é a solução
A mente gira, grita
Júlia tranquila, porém
vazia.
Centenas de minutos
na fila de espera
com direito a sete sonhos
de sete cores cada,
uma escada, uma caneca,
uma maçã e uma lanterna.

Como chegar à Lua?
Escada não basta;
mas basta jogar uma corda
em uma de suas pontas
Seus habitantes acordam
e te puxam — uma nuvem
te empurra
o vento desce
e derruba o chapéu.
Peixe vira água
andorinha vira céu
Enquanto Júlia vira pião,
abelha vira mel.
E gira, e gira

e quebra o ritmo
e seu par não coopera
Mas Júlia não liga

não liga
— seu par não liga
porque tudo é primavera
quando se tecla e se tecla
e nasce a arte
e o piano canta

como a voz de Júlia
que toca o piano
e Júlia soa como
mais uma folha
caindo num eterno outono

novo
— numa eterna festa junina
entre doces e doces amigos
e uma vida inteira
numa camisa retalhada
— num mundo onde

o céu tem cheiro de sândalo
o chão tem cor de correria
e são proibidos
corações partidos
e partidas.

Mas Júlia partiu.
Júlia tentava dormir
como tenta qualquer pessoa
sonhar.
E Júlia
dormiu.