sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Júlia

Júlia

Júlia tentava dormir
como tenta qualquer pessoa
que precisa acordar cedo,
que está abobada com algo,
insone, quente ou com medo.
Com a fronte pra cima,
de bruços, de lado
com braço levantado,
flexionado,
de lado com as pernas dobradas e
o tempo se perde
— passa e não passa
e não sabemos se divagar
ou esvaziar é a solução
A mente gira, grita
Júlia tranquila, porém
vazia.
Centenas de minutos
na fila de espera
com direito a sete sonhos
de sete cores cada,
uma escada, uma caneca,
uma maçã e uma lanterna.

Como chegar à Lua?
Escada não basta;
mas basta jogar uma corda
em uma de suas pontas
Seus habitantes acordam
e te puxam — uma nuvem
te empurra
o vento desce
e derruba o chapéu.
Peixe vira água
andorinha vira céu
Enquanto Júlia vira pião,
abelha vira mel.
E gira, e gira

e quebra o ritmo
e seu par não coopera
Mas Júlia não liga

não liga
— seu par não liga
porque tudo é primavera
quando se tecla e se tecla
e nasce a arte
e o piano canta

como a voz de Júlia
que toca o piano
e Júlia soa como
mais uma folha
caindo num eterno outono

novo
— numa eterna festa junina
entre doces e doces amigos
e uma vida inteira
numa camisa retalhada
— num mundo onde

o céu tem cheiro de sândalo
o chão tem cor de correria
e são proibidos
corações partidos
e partidas.

Mas Júlia partiu.
Júlia tentava dormir
como tenta qualquer pessoa
sonhar.
E Júlia
dormiu.

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