sábado, 19 de abril de 2014

maio

maio

em maio todos ficam doentes.
corpos que se espremem no canto de
salas de aula
escritórios
bares
e que, de vez em quando,
percorrem todo o caminho

se esgueirando pelo ar
até chegar ao banheiro,
pegar papel, assuar o nariz,
lavar a cara, o nariz,
assuar o nariz de novo,
fazer uma careta para o espelho
e voltar, num caminho tortuoso
até onde estavam

corpos que se escondem
debaixo de cobertores nos finais de semana,
tentando ler — não conseguindo
e se entretendo
na mais pós-moderna representação da volúpia do aborrecimento:
a música indie-deprê

as janelas estão sempre ocupadas.
as luzes faiscantes dos carros
entretêm esses corpos que se submetem
ao vento gelado da madrugada por
falta do que
         querer fazer.

nunca se toma tanto café.
nunca se fuma tanto cigarro.
a desatenção só proporciona
a leitura da poesia
(as piores leituras possíveis)
mas da poesia curta

da poesia de uma estrofe só.

nesse começo de frio,
de maio,
não conseguimos acreditar
que esses corpos molengas abrigam pessoas.
        não queremos acreditar
                   dá um pouco de pena.
mas o corpo é superestimado.

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